Frase da semana

Não temas; doravante serás pescador de homens. (Lc 5, 10)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Posso me casar na Igreja com alguém não católico?


Cresce o número de jovens católicos e protestantes, ou de outras religiões, que namoram, desejam se casar na Igreja Católica e perguntam se podem fazê-lo.
Antes de tudo é preciso compreender que há duas situações diferentes: uma é o “casamento misto” – entre um católico e uma pessoa não católica, mas batizada em uma comunidade eclesial cristã. Um outro caso é quando há “disparidade de culto”, isto é , o casamento entre um católico e uma pessoa não batizada, não cristã. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) diz que:

“Em muitos países, a situação do casamento misto (entre católico e batizado não católico) se apresenta com muita frequência. Isso exige uma atenção particular dos cônjuges e dos pastores. O caso dos casamentos com disparidade de culto (entre católico e não batizado) exige uma circunspeção maior ainda" (CIC §1634).

A Igreja pode autorizar o matrimônio desde que obedeçam a certas exigências. Antes de tudo é preciso que se amem e cada um respeite o outro e sua fé, vivendo cada um, a seu modo, a fidelidade a Cristo. A Igreja não deixa de lembrar as dificuldades que podem surgir nessa união, pois a fé é um ponto básico na unidade do casal. O católico, por exemplo, gostará de ter em sua casa o crucifixo e outras imagens para venerar; bem como rezar o Rosário de Nossa Senhora, entre outros. Já a outra parte pode não aceitar isso. Mais difícil ainda pode ser quando o outro cônjuge não cristão não aceitar a própria fé em Cristo do outro ou querer praticar cultos que a fé da Igreja não aceite. E a grande preocupação da Igreja é com relação à educação dos filhos. O Catecismo diz que:

“A diferença de confissão entre os cônjuges não constitui obstáculos insuperável para o casamento, desde que consigam pôr em comum o que cada um deles recebeu em sua comunidade e aprender um do outro o modo de viver sua fidelidade a Cristo. Mas nem por isso devem ser subestimadas as dificuldades dos casamentos mistos. Elas se devem ao fato de que a separação dos cristãos é uma questão ainda não resolvida. Os esposos correm o risco de sentir o drama da desunião dos cristãos no seio do próprio lar. A disparidade de culto pode agravar ainda mais essas dificuldades. As divergências concernentes à fé, à própria concepção do casamento, como também mentalidades religiosas diferentes, podem constituir uma fonte de tensões no casamento, principalmente no que tange à educação dos filhos. Uma tentação pode então apresentar-se: a indiferença religiosa” (CIC §1635.)

A Igreja exige nos casos acima citados a autorização expressa da autoridade eclesiástica, normalmente do bispo. E exige que os noivos se comprometam a educar os filhos na fé católica. Afirma o Catecismo:

“Conforme o direito em vigor na Igreja Latina, um casamento misto exige, para sua liceidade, a permissão expressa da autoridade eclesiástica. Em caso de disparidade de culto, requer-se uma dispensa expressa do impedimento para a validade do casamento. Esta permissão ou esta dispensa supõem que as duas partes conheçam e não excluam os fins e as propriedades essenciais do casamento, e também que a parte católica confirme o empenho, com o conhecimento também da parte não-católica, de conservar a própria fé e assegurar o batismo e a educação dos filhos na Igreja católica” (CIC §1636).

Portanto, para um (a) jovem católico (a) que namora uma pessoa de outra religião, esta será a primeira questão a ser discutida com o (a) companheiro (a). Será que ele (a) aceita isso? O Código de Direito Canônico da Igreja afirma:

Cân. 1124 – “O matrimônio entre duas pessoas batizadas, das quais uma tenha sido batizada na Igreja católica ou nela recebida depois do batismo, e que não tenha dela saído por ato formal, e outra pertencente a uma Igreja ou comunidade eclesial que não esteja em plena comunhão com a Igreja católica, é proibido sem a licença expressa da autoridade competente”
.

E sobre a disparidade de culto confirma o Código o seguinte:

Cân. 1086 § 1 – “É inválido o matrimônio entre duas pessoas, uma das quais tenha sido batizada na Igreja católica ou nela recebida e que não a tenha abandonado por um ato formal, e outra que não é batizada.

§ 2. Não se dispense desse impedimento, a não ser cumpridas as condições mencionadas nos cânn. 1125 e 1126”
.

Cân. 1125 – “O Ordinário local [Bispo] pode conceder essa licença, se houver causa justa e razoável; não a conceda, porém, se não se verificarem as condições seguintes:

1°- a parte católica declare estar preparada para afastar os perigos de defecção da fé, e prometa sinceramente fazer todo o possível a fim de que toda a prole seja batizada e educada na Igreja católica;

2°- informe-se, tempestivamente, desses compromissos da parte católica à outra parte, de tal modo que conste estar esta verdadeiramente consciente do compromisso e da obrigação da parte católica;

3°- ambas as partes sejam instruídas a respeito dos fins e propriedades essenciais do matrimônio, que nenhum dos contraentes pode excluir.


Cân. 1126 - “Compete à Conferência dos Bispos estabelecer o modo segundo o qual devem ser feitas essas declarações e compromissos, que são sempre exigidos, como também determinar como deve constar no foro externo e como a parte não-católica deve ser informada”.

E como deve ser celebrado o matrimônio nesses casos? O Código de Direito exige o seguinte:

Cân. 1127 § 1. – “No que se refere à forma a ser empregada nos matrimônios mistos, observem-se as prescrições do cân. 1108; mas, se a parte católica contrai matrimônio com outra parte não-católica de rito oriental, a forma canônica deve ser observada só para a liceidade; para a validade, porém, requer-se a intervenção de um ministro sagrado, observando-se as outras prescrições do direito.

§ 2. Se graves dificuldades obstam à observância da forma canônica, é direito do Ordinário local da parte católica dispensar dela em cada caso, consultado, porém o Ordinário do lugar onde se celebra o matrimônio e salva, para a validade, alguma forma pública de celebração; compete à Conferência dos Bispos estabelecer normas, pelas quais se conceda a dispensa de modo concorde.

§ 3. Antes ou depois da celebração realizada de acordo com o § 1, proíbe-se outra celebração religiosa desse matrimônio para prestar ou renovar o consentimento matrimonial; do mesmo modo, não se faça uma celebração religiosa em que o assistente católico e o ministro não-católico, executando simultaneamente cada qual o próprio rito, solicitam o consentimento das partes.


Cân. 1128 – “Os Ordinários locais e os outros pastores de almas cuidem que não faltem o cônjuge católico e aos filhos nascidos de matrimônio misto o auxílio espiritual para as obrigações que devem cumprir, e ajudem os cônjuges a alimentarem a unidade da vida conjugal e familiar”.

Cân. 1129 - As prescrições dos cân. 1127 e 1128 devem aplicar-se também aos matrimônios em que haja o impedimento de disparidade de culto, mencionado no cân. 1086, § 1.

Como nem sempre é fácil interpretar essas normas da Igreja, a providência primeira será procurar o pároco e conversar com ele sobre o seu caso.

Felipe Aquino
In: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=11654

Um amor eterno


A capacidade de ver o outro de forma diferente

O amor só pode ser eterno à medida que vivermos a conquista do outro todos os dias. E isso só a partir do momento em que o amor de Deus incendiar a nossa vida. Nós só podemos ser livres quando temos dono, mas um dono que nos administre para o amor e para a liberdade. O meu Dono [Deus] me ama, tem apreço por mim! Não vai me sugerir nada que vá me fazer mal, porque Seu dom é amor. Ele não escraviza ninguém.

Para ter fogo é preciso ter lenha. Deus é o fogo. Nós precisamos ser essa lenha onde o Senhor queime. O Todo-poderoso não faz milagres para mostrar o Seu poder apenas, mas todas as manifestações do Senhor são para conquistar o coração que está ali. Ele assim fez com Moisés. A conquista vem por intermédio de coisas bonitas. Se você vai receber amigos, você oferece o melhor. Busca um jeito de manifestar o amor. É isso que Deus fez com esse profeta.

O "bonito" não se limita a um atrativo estético, interior. É você perceber algo a mais. É descobrir que alguma coisa daquela beleza supera as suas formas. É algo maior que me chama, que fala de mim, como se aquela beleza fosse algo que me faltasse. O amor é essa capacidade de ver o outro de forma diferente. No meio de tanta gente, alguém se torna especial para você e você se aproxima. O amor é essa capacidade de retirar alguém da multidão, tirá-lo do lugar comum para um lugar dedicado, especial. Alguém descobriu uma sacralidade em você.

Amar é você começar a descobrir que, numa multidão, alguém não é multidão. Quando alguém se aproximou de você foi porque você gerou um encanto nessa pessoa. O outro se sentiu melhor quando se aproximou de você. A beleza da totalidade que você tem faz o outro melhor. A primeira coisa que o amor esponsal e conjugal cura são as orfandades que a vida nos colocou.

Não acredito em um casamento que não tem Deus na sua história. Como o seu marido vai reconhecer a sacralidade do seu coração se ele não traz a consciência de todo o sagrado que você é? O amor, quando não é amor, vira competição, disputa. Por isso o amor que é iniciado e mantido em Deus será sempre um amor de promoção do outro.

O casamento é um encantamento pelo outro, o qual vai ganhando sentido quando o vou conhecendo. Assim, todos os dias você precisa se aproximar do outro e descobrir o motivo para continuar o respeito e a alegria de estar diante daquela, que é sua ajuda adequada.

Casamento em que o outro é opressão, não é amor. O amor leva para o alto! Se vocês não se promovem mais significa que vocês estão esquecendo a vocação primeira do matrimônio: o de acender o fogo do amor, da dignidade e da felicidade do outro.

Padre Fábio de Melo

quarta-feira, 12 de maio de 2010

ABUSO DE MENORES. A RESPOSTA DA IGREJA



Carta Pastoral do Santo Padre Bento XVI aos Católicos na Irlanda

(Tradução não oficial)
1. Amados Irmãos e Irmãs da Igreja na Irlanda, é com grande preocupação que vos escrevo como Pastor da Igreja universal. Como vós, fiquei profundamente perturbado com as notícias dadas sobre o abuso de crianças e jovens vulneráveis da parte de membros da Igreja na Irlanda, sobretudo de sacerdotes e religiosos. Não posso deixar de partilhar o pavor e a sensação de traição que muitos de vós experimentastes ao tomar conhecimento destes atos pecaminosos e criminais e do modo como as autoridades da Igreja na Irlanda os enfrentaram.
Como sabeis, convidei recentemente os bispos irlandeses para um encontro aqui em Roma a fim de referir sobre o modo como trataram estas questões no passado e indicar os passos que empreenderam para responder a esta grave situação. Juntamente com alguns altos Prelados da Cúria Romana ouvi quanto tinham para dizer, quer individualmente quer em grupo, enquanto propunham uma análise dos erros cometidos e das lições aprendidas, e uma descrição dos programas e dos protocolos hoje existente. As nossas reflexões foram francas e construtivas. Alimento a confiança de que, como resultado, os bispos se encontrem agora numa posição mais forte para levar por diante a tarefa de reparar as injustiças do passado e para enfrentar as temáticas mais amplas relacionadas com o abuso dos menores segundo modalidades conformes com as exigências da justiça e com os ensinamentos do Evangelho.

2. Por meu lado, considerando a gravidade destas culpas e a resposta muitas vezes inadequada que lhes foi reservada da parte das autoridades eclesiásticas no vosso país, decidi escrever esta Carta Pastoral para vos expressar a minha proximidade, e para vos propor um caminho de cura, de renovação e de reparação.
Na realidade, como muitos no vosso país revelaram, o problema do abuso dos menores não é específico nem da Irlanda nem da Igreja. Contudo a tarefa que agora tendes à vossa frente é enfrentar o problema dos abusos que se verificaram no âmbito da comunidade católica irlandesa e de o fazer com coragem e determinação. Ninguém pense que esta dolorosa situação se resolverá em pouco tempo. Foram dados passos em frente positivos, mas ainda resta muito para fazer. É preciso perseverança e oração, com grande confiança na força restabelecedora da graça de Deus.
Ao mesmo tempo, devo expressar também a minha convicção de que, para se recuperar desta dolorosa ferida, a Igreja na Irlanda deve em primeiro lugar reconhecer diante do Senhor e diante dos outros, os graves pecados cometidos contra jovens indefesos. Esta consciência, acompanhada de sincera dor pelo dano causado às vítimas e às suas famílias, deve levar a um esforço concentrado para garantir a proteção dos jovens em relação a semelhantes crimes no futuro.
Enquanto enfrentais os desafios deste momento, peço-vos que vos recordeis da “rocha de que fostes talhados” (Is 51, 1). Refleti sobre as contribuições generosas, com frequência heróicas, oferecidas à Igreja e à humanidade como tal pelas passadas gerações de homens e mulheres irlandeses, e deixai que isto gere impulso para um honesto auto-exame e um convicto programa de renovação eclesial e individual. A minha oração é para que, assistida pela intercessão dos seus muitos santos e purificada pela penitência, a Igreja na Irlanda supere a presente crise e volte a ser uma testemunha convincente da verdade e da bondade de Deus onipotente, manifestadas no seu Filho Jesus Cristo.

3. Historicamente os católicos da Irlanda demonstraram-se uma grande força de bem, quer na pátria quer fora. Monges célticos, como São Colombano, difundiram o Evangelho na Europa Ocidental lançando as bases da cultura monástica medieval. Os ideais de santidade, de caridade e de sabedoria transcendente que derivam da fé cristã, encontraram expressão na construção de igrejas e mosteiros e na instituição de escolas, bibliotecas e hospitais que consolidaram a identidade espiritual da Europa. Aqueles missionários irlandeses tiraram a sua força e inspiração da fé sólida, da guia forte e dos comportamentos morais retos da Igreja na sua terra natal.(...).
Em quase todas as famílias da Irlanda houve alguém – um filho ou uma filha, uma tia ou um tio – que deu a própria vida à Igreja. Justamente as famílias irlandesas têm em grande estima e afeto os seus queridos, que ofereceram a própria vida a Cristo, partilhando o dom da fé com outros e atualizando-a num serviço amoroso a Deus e ao próximo.

4. Contudo, nos últimos decênios a Igreja no vosso país teve que se confrontar com novos e graves desafios à fé que surgiram da rápida transformação e secularização da sociedade irlandesa. Verificou-se uma mudança social muito rápida, que muitas vezes atingiu com efeitos hostis a tradicional adesão do povo ao ensinamento e aos valores católicos. Com frequência as práticas sacramentais e devocionais que sustentam a fé e a tornam capaz de crescer, como, por exemplo, a confissão frequente, a oração quotidiana e os ritos anuais, não foram atendidas. Determinante foi também neste período a tendência, até da parte de sacerdotes e religiosos, para adotar modos de pensamento e de juízo das realidades seculares sem referência suficiente ao Evangelho. O programa de renovação proposto pelo Concílio Vaticano II por vezes foi mal compreendido e na realidade, à luz das profundas mudanças sociais que se estavam a verificar, não era fácil avaliar o modo melhor de o realizar. Em particular, houve uma tendência, ditada por reta intenção mas errada, a evitar abordagens penais em relação a situações canônicas irregulares. É neste contexto geral que devemos procurar compreender o desconcertante problema do abuso sexual dos jovens, que contribuiu em grande medida para o enfraquecimento da fé e para a perda do respeito pela Igreja e pelos seus ensinamentos.
Só examinando com atenção os numerosos elementos que deram origem à crise atual é possível empreender uma diagnose clara das suas causas e encontrar remédios eficazes. Certamente, entre os fatores que para ela contribuíram podemos enumerar: procedimentos inadequados para determinar a idoneidade dos candidatos ao sacerdócio e à vida religiosa; insuficiente formação humana, moral, intelectual e espiritual nos seminários e nos noviciados; uma tendência na sociedade a favorecer o clero e outras figuras com autoridade e uma preocupação inoportuna pelo bom nome da Igreja e para evitar os escândalos, que levaram como resultado à malograda aplicação das penas canônicas em vigor e à falta da tutela da dignidade de cada pessoa. É preciso agir com urgência para enfrentar estes fatores, que tiveram consequências tão trágicas para as vidas das vítimas e das suas famílias e obscureceram a luz do Evangelho a tal ponto, ao qual nem sequer séculos de perseguição não tinham chegado.

5. Em diversas ocasiões desde a minha eleição para a Sé de Pedro, encontrei vítimas de abusos sexuais, assim como estou disponível a fazê-lo no futuro. Detive-me com elas, ouvi as suas vicissitudes, tomei nota do seu sofrimento, rezei com e por elas. Precedentemente no meu pontificado, na preocupação por enfrentar este tema, pedi aos Bispos da Irlanda, por ocasião da visita ad limina de 2006, que «estabelecessem a verdade de quanto aconteceu no passado, tomassem todas as medidas adequadas para evitar que se repita no futuro, garantissem que os princípios de justiça sejam plenamente respeitados e, sobretudo, curassem as vítimas e quantos são atingidos por estes crimes abnormes» (Discurso aos Bispos da Irlanda, 28 de Outubro de 2006).
Com esta Carta, pretendo exortar todos vós, como povo de Deus na Irlanda, a refletir sobre as feridas infligidas ao corpo de Cristo, sobre os remédios, por vezes dolorosos, necessários para as atar e curar, e sobre a necessidade de unidade, de caridade e de ajuda recíproca no longo processo de restabelecimento e de renovação eclesial. Dirijo-me agora a vós com palavras que me vêm do coração, e desejo falar a cada um de vós individualmente e a todos como irmãos e irmãs no Senhor.

6. Às vítimas de abuso e às suas famílias

Sofrestes tremendamente e por isto sinto profundo desgosto. Sei que nada pode cancelar o mal que suportastes. Foi traída a vossa confiança e violada a vossa dignidade. Muitos de vós experimentastes que, quando éreis suficientemente corajosos para falar de quanto tinha acontecido, ninguém vos ouvia. Quantos de vós sofrestes abusos nos colégios deveis ter compreendido que não havia modo de evitar os vossos sofrimentos. É compreensível que vos seja difícil perdoar ou reconciliar-vos com a Igreja. Em seu nome expresso abertamente a vergonha e o remorso que todos sentimos. Ao mesmo tempo peço-vos que não percais a esperança. É na comunhão da Igreja que encontramos a pessoa de Jesus Cristo, ele mesmo vítima de injustiça e de pecado. Como vós, ele ainda tem as feridas do seu injusto padecer. Ele compreende a profundeza dos vossos padecimentos e o persistir do seu efeito nas vossas vidas e nos relacionamentos com os outros, incluídas as vossas relações com a Igreja. Sei que alguns de vós tendes dificuldade até de entrar numa igreja depois do que aconteceu. Contudo, as mesmas feridas de Cristo, transformadas pelos seus sofrimentos redentores, são os instrumentos graças aos quais o poder do mal é infrangido e nós renascemos para a vida e para a esperança. Creio firmemente no poder restabelecedor do seu amor sacrifical – também nas situações mais obscuras e sem esperança – que traz a libertação e a promessa de um novo início.
Dirigindo-me a vós como pastor, preocupado pelo bem de todos os filhos de Deus, peço-vos com humildade que reflitais sobre quanto vos disse. Rezo a fim de que, aproximando-vos de Cristo e participando na vida da sua Igreja – uma Igreja purificada pela penitência e renovada na caridade pastoral – possais redescobrir o amor infinito de Cristo por todos vós. Tenho confiança em que deste modo sereis capazes de encontrar reconciliação, profunda cura interior e paz.

7. Aos sacerdotes e aos religiosos que abusaram dos jovens

Traístes a confiança que os jovens inocentes e os seus pais tinham em vós. Por isto deveis responder diante de Deus onipotente, assim como diante de tribunais devidamente constituídos. Perdestes a estima do povo da Irlanda e lançastes vergonha e desonra sobre os vossos irmãos. Quantos de vós sois sacerdotes violastes a santidade do sacramento da Ordem Sagrada, no qual Cristo se torna presente em nós e nas nossas ações. Juntamente com o enorme dano causado às vítimas, foi perpetrado um grande dano à Igreja e à percepção pública do sacerdócio e da vida religiosa.
Exorto-vos a examinar a vossa consciência, a assumir a vossa responsabilidade dos pecados que cometestes e a expressar com humildade o vosso pesar. O arrependimento sincero abre a porta ao perdão de Deus e à graça do verdadeiro emendamento. Oferecendo orações e penitências por quantos ofendestes, deveis procurar reparar pessoalmente as vossas ações. O sacrifício redentor de Cristo tem o poder de perdoar até o pecado mais grave e de obter o bem até do mais terrível dos males. Ao mesmo tempo, a justiça de Deus exige que prestemos contas das nossas ações sem nada esconder. Reconhecei abertamente a vossa culpa, submetei-vos às exigências da justiça, mas não desespereis da misericórdia de Deus.(...).

9. Aos meninos e aos jovens da Irlanda

Desejo oferecer-vos uma particular palavra de encorajamento. A vossa experiência de Igreja é muito diversa da que fizeram os vossos pais e avós. O mundo mudou muito desde quando eles tinham a vossa idade. Não obstante, todos, em cada geração, estão chamados a percorrer o mesmo caminho da vida, sejam quais forem as circunstâncias. Todos estamos escandalizados com os pecados e as falências de alguns membros da Igreja, sobretudo de quantos foram escolhidos de modo especial para guiar e servir os jovens. Mas é na Igreja que encontrareis Jesus Cristo que é o mesmo ontem, hoje e sempre (cf. Hb 13, 8). Ele ama-vos e ofereceu-se a si próprio na Cruz por vós. Procurai uma relação pessoal com ele na comunhão da sua Igreja, porque ele nunca trairá a vossa confiança! Só ele pode satisfazer as vossas expectativas mais profundas e conferir às vossas vidas o seu significado mais pleno orientando-as para o serviço ao próximo. Mantende o olhar fixo em Jesus e na sua bondade e protegei no vosso coração a chama da fé. Juntamente com os vossos irmãos católicos na Irlanda olho para vós a fim de que sejais discípulos fiéis do nosso Deus e contribuais com o vosso entusiasmo e com o vosso idealismo tão necessários para a reconstrução e para o renovamento da nossa amada Igreja.
(...)
Desejo concluir esta Carta com uma especial Oração pela Igreja na Irlanda, que vos envio com o cuidado que um pai tem pelos seus filhos e com o afeto de um cristão como vós, escandalizado e ferido por quanto aconteceu na nossa amada Igreja. Ao utilizardes esta oração nas vossas famílias, paróquias e comunidades, que a Bem-Aventurada Virgem Maria vos proteja e vos guie pelo caminho que conduz a uma união mais estreita com o seu Filho, crucificado e ressuscitado. Com grande afeto e firme confiança nas promessas de Deus, concedo de coração a todos vós a minha Bênção Apostólica em penhor de força e paz no Senhor.

Vaticano, 19 de Março de 2010, Solenidade de São José
Benedictus PP. XVI

ORAÇÃO PELA IGREJA NA IRLANDA

Deus dos nossos pais,
Renova-nos na fé que é para nós vida e salvação, na esperança que promete perdão e renovação interior, na caridade que purifica e abre os nossos corações para te amar, e em ti, amar todos os nossos irmãos e irmãs.
Senhor Jesus Cristo, possa a Igreja na Irlanda renovar o seu milenário compromisso na formação dos nossos jovens no caminho da verdade, da bondade, da santidade e do serviço generoso à sociedade.
Espírito Santo, consolador, advogado e guia, inspira uma nova primavera de santidade e de zelo apostólico para a Igreja na Irlanda.
Possa a nossa tristeza e as nossas lágrimas, o nosso esforço sincero por corrigir os erros do passado, e o nosso firme propósito de correção, dar abundantes frutos de graça para o aprofundamento da fé nas nossas famílias, paróquias, escolas e associações, e para o progresso espiritual da sociedade irlandesa, e para o crescimento da caridade, da justiça, da alegria e da paz, na inteira família humana.
A ti, Trindade, com plena confiança na amorosa proteção de Maria, Rainha da Irlanda, nossa Mãe, e de São Patrício, de Santa Brígida e de todos os santos, recomendamos a nós próprios, os nossos jovens, e as necessidades da Igreja na Irlanda.
Amém.


http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/letters/2010/documents/hf_ben-xvi_let_20100319_church-ireland_po.html

sábado, 8 de maio de 2010

Copa na África do Sul: católicos contra indústria do sexo


O Cardeal Napier fala do risco de tráfico humano durante a Copa do Mundo de Futebol

Por Mariaelena Finessi

DURBAN, quinta-feira, 6 de Maio de 2010 (ZENIT.org). A experiência demonstra que todo grande evento esportivo atrai numerosos turistas, o que incorre num aumento da demanda de favores sexuais.
Para a Copa do Mundo de Futebol 2010 (que acontecerá de 11 de junho a 11 de julho deste ano), prevê-se a chegada de centenas de milhares de apaixonados por futebol à África do Sul.
As organizações de proteção às crianças e de direitos humanos advertem que o tráfico de pessoas pode se agravar com a chegada ilegal ao país de adultos e crianças, que vêm da Ásia, Europa Oriental e de outras regiões de África, para fomentar a indústria do sexo.
Nesta ocasião, a Igreja Católica se prepara para acolher os times e visitantes, é claro, mas também para tomar iniciativas de combate ao risco de exploração (veja em www.churchontheball.com).

O arcebispo de Durban, cardeal Wilfrid Fox Napier, explica nesta entrevista à Zenit as atitudes a serem tomadas pela Igreja em favor dos direitos humanos.
Mostra que a iniciativa de uma maior distribuição de preservativos não é eficiente na contenção da difusão do HIV: "É como dizer que o único modo de curar o alcoolismo será dando bebidas gratuitamente a todos os alcoólatras".

- Eminência, o que diz sobre o risco de que se aumente a prostituição de menores em razão da Copa do Mundo?

Cardeal Napier: Há sinais de que as máfias dedicadas a isto entraram em ação. Também são crescentes as notícias de crianças desaparecidas e de casos de adolescentes e jovens adultos que são pegos em oportunidades de trabalho "boas demais para se poder resistir".

- Há atividades específicas que a Igreja gostaria de promover neste evento?

Cardeal Napier: Nós estamos realizando muito trabalho de sensibilização e divulgação de informação, usando casos reais aplicáveis. Da mesma maneira, estamos cobrando as escolas católicas e as associações de mulheres para darem maior alcance à atividade de divulgação do tema relacionado aos direitos humanos. Por outro lado, eu devo dizer que o governo também tem o mérito de fazer um grande trabalho, mostrando-se aberto a colaborar com as organizações não-governamentais.

- A Igreja Católica é a única que intervém?

Cardeal Napier: Outras Igrejas e associações cristãs, como também as pessoas de outras religiões, estão cada vez mais participativas, por exemplo, a Conferência Mundial sobre Religião e Paz, o Conselho Inter-Religioso KwaZulu e o Fórum Nacional de Líderes Religiosos.

- A verdadeira preocupação se deve ao medo de uma transmissão maior do vírus HIV face à demanda maior no mercado do sexo. Recentemente, a Grã-Bretanha anunciou que daria 42 milhões de preservativos à África do Sul em resposta a um pedido deste mesmo país que, especificamente para a Copa do Mundo, instituiu um programa de prevenção ao HIV. Qual é o seu ponto de vista?

Cardeal Napier: O Governo de Jacob Zuma nunca deixa de surpreender! Poucas semanas atrás, uma campanha anti-HIV / AIDS foi iniciada e muito divulgada, cujo objetivo é que 15 milhões de pessoas façam o teste de HIV, mas o segundo passo, deste mesmo governo, é aceitar, ou "pedir e aceitar", 42 milhões de preservativos da Grã-Bretanha. É uma loucura!
Diz-se que os preservativos são para a Copa do Mundo: mas só se esperam para o evento entre 250.000 e 300.000 apaixonados pelo futebol; e considerando, obviamente, que nem todos têm um estilo de vida promíscuo, a quem são destinados realmente estes preservativos? Não é talvez outro exemplo da decadência do Ocidente e de sua vontade de vender seus decadentes bens às decadentes elites emergentes?

- O debate afeta o contexto e a legitimidade da indústria do sexo: os peritos dizem que o único modo para prevenir o tráfico de seres humanos é penalizar a prostituição e promulgar leis antitráfico. O que poderia ser feito, em sua opinião?

Cardeal Napier: É como dizer: "O único modo para curar o alcoolismo é dar bebidas gratuitamente a todos os alcoólatras". Tampouco faz sentido remover as poucas limitações jurídicas ao imponente tráfico de meninas e moças. Em todo caso, a legislação pertinente deve ser específica e tipificada: esses que escravizam a vítima de abuso e contra os que se aproveitam disto, contra esses mesmos homens que "usam" as prostitutas.

- Uma última pergunta: como nasceu a oração especial para a Copa do Mundo FIFA 2010?

Cardeal Napier: A oração, como também outros meios de atenção espiritual das igrejas, estará à disposição durante a Copa do Mundo e é fruto de um acordo entre vários âmbitos: conferências episcopais, dioceses e paróquias.

Permalink: http://www.zenit.org/article-24809?l=portuguese

terça-feira, 4 de maio de 2010

Falece padre Edson, secretário nacional da Infância Missionária


terça-feira, 4 de maio de 2010

Caros amigos,as Pontíficias Obras Missionárias são uma família e hoje essa família perde um de seus membros mais ilustres.Padre Edson não era só assessor da IAM era antes de tudo um Missionário e grande colaborador da Juventude Missionária.
Sua morte representa grande dor para todos nós,que sonhamos com um mundo Missionário, perdemos uma pessoa que sonhava tanto quanto a gente ou mais. Esse Missionário morreu enquanto voltava de mais um encontro de formação,morreu a serviço de Deus e das Pontificias Obras Missionárias, por isso podemos dizer que morreu se doando por essa causa e merece todas as nossas reverências e orações.Leia abaixo algumas notícias sobre a sua morte.
Ontem, 03 de maio de 2010, às 21 hs faleceu o padre Edson Assunção Santos Ribeiro, 44 anos, natural de Contagem (MG) mas pertencente ao clero de Niterói.
Pe. Edson, desde dezembro de 2005, era Secretário Nacional da Pontifícia Obra da Infância Missionária.
O padre estava desde sexta feira em Barra do Garças, orientando um encontro de formação de assessores da Infância Missionária e deveria retornar a Brasília ontem no fim do dia.
A morte aconteceu na estrada que vai de Araguaiana a Barra do Garças, no Mato Grosso e foi provocada por um acidente de carro. O veiculo onde viajava o padre Edson, em companhia do Pe. Wiliam e do leigo Fausto, ao atravessar uma ponte, ficou desgovernado, provocando a morte instantânea do Padre Edson e ferimentos no padre Wiliam.

Quem foi o Pe. Edson?

Deixemos que ele mesmo se apresente, como fez no seu site na internet.
Nascido aos 15 de agosto de 1966, em Contagem - MG, é filho de Manoel Linhares Ribeiro e Ilda dos Santos Ribeiro (in memoriam). Tem dois irmãos, Paulo e Maria das Graças.
Desde a primeira infância manifestou a intenção de ser padre.
"Lembro-me que aos quatro anos de idade já falava em ser padre quando crescesse. Todo mundo achava 'bonitinho', mas 'coisa de criança, quando crescer muda de idéia'. Cresci, mas a idéia permaneceu cada vez mais forte, porque não era minha: vinha de Deus".
Quando sua casa estava sendo construída (no que ajudou carregando tijolos com seus pequenos irmãos) usava as estacas e novos cômodos como igrejinha e celebrava missa para seus irmãos, batizava as bonecas da caçula, fazia pregações, imitando o pároco.
Aos dez anos entrou para o grupo dos coroinhas. "Era uma grande alegria estar no altar, perto do padre, ajudando a Santa Missa. Tudo tinha que sair perfeito: era para Jesus". Entre uma "paquera" e outra a vocação foi se firmando.
Aos 13 anos começou a freqüentar um grupo vocacional na Paróquia vizinha, cujo pároco, Pe. Paulo Lopes de Faria, hoje Arcebispo de Diamantina, o trouxe para o Seminário de Niterói, quando Bispo auxiliar desta Arquidiocese, depois de bater em várias portas de seminário, não sendo aceito por ainda ser muito novo e não ter concluído o segundo grau.
Ingressou no Seminário São José em fevereiro de 1982, para cursar o 2º grau (Seminário Menor), e neste Seminário recebeu toda sua formação para o sacerdócio. Durante o 2º grau estudo nos colégios Pio XI, Liceu Nilo Peçanha e NS Mercês, todos em Niterói. Depois , já no Seminário Maior, cursou filosofia e teologia no Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro.
Recebeu o Ministério de Leitor na Paróquia NS Neves e o Ministério de Acólito na Paróquia São Lourenço. Foi ordenado Diácono em 11/12/1989 em Rio Bonito , junto com seu companheiro de caminhada Pe. Miguel Fernandes, que o acompanhou na mesma turma durante oito anos. "Gente boa, o Gué!"
Um problema de saúde em 1990, levou a adiar por dois anos sua ordenação sacerdotal. "Entrei em crise: será que este não era um sinal de Deus, de que esta não era sua vontade para minha vida? Foram anos de sofrimento, mas de amadurecimento. Deus, porém, não me deixou na mão. Discretamente me dizia: 'vá em frente, meu filho, eu te escolhi'. Então, nunca mais tive dúvidas: é esta a vontade do Pai, á qual procuro sinceramente responder a cada dia de minha vida".
Finalmente, o grande dia: 12 de dezembro de 1992! Na Porciúncula de Santana Dom Carlos Alberto Navarro (in memoriam) o ordena "Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec". Família reunida, igreja lotada, agora Edson é Padre, junto com Ricardo e Frei Fernando. No dia seguinte, a primeira missa no Seminário. Tantas e fortes emoções. Seguem-se outras missas solenes: Barreto (onde morava já há um ano e para onde foi nomeado vigário paroquial), São Lourenço, Covanca, Silva Jardim... paróquias onde fizera seu estágio pastoral, depois, Jardim Industrial, em Contagem - MG, onde crescera junto aos seus familiares e amigos, que também lotaram a igreja paroquial.
De volta para Niterói, passou a exercer seu ministério pastoral como Vigário Paroquial do Barreto, ao lado de seu irmão mais velho ("mais experiente") e grande amigo Mons. Guedes, que, aliás, foi quem o recebeu no Seminário. Continuou também a trabalhar na Cúria, como Chanceler do Arcebispado (já o fazia há mais de um ano) e estudar Direito Canônico no Rio. Logo foi acumulando outras funções: coordenador da catequese, secretário do Sínodo Arquidiocesano, professor e diretor do Instituto de Formação Estrela da Evangelização (do qual é um dos fundadores), idem dos CPCs (Curso de Pastoral Catequética) de Niterói e São Gonçalo.
Em 1993 foi nomeado Juiz Instrutor da recém criada Câmara Eclesiástica Auxiliar Permanente de Niterói, função que exerceu até fevereiro de 2006. Em 1995/6 acumulou, com Mons. Guedes, a Paróquia NS Nazaré, no Caramujo.
Em 1998 foi transferido para Paróquia NS Neves, onde ficou seis anos, sendo que em dezembro de 2002 acumulou a Paróquia Santo Antonio, na Covanca. Devido ao acúmulo de trabalho, pediu dispensa do cargo de Chanceler no final de 1999, ficando, porém, como vice até meados de 2004.
Também em 1999 trocou de função com Ir. Inês Maria, ficando encarregado da Dimensão Missionária da Arquidiocese, visto que já há alguns anos estava trabalhando na implantação da Infância Missionária na Arquidiocese e no país (pertencendo á Equipe Nacional da Infância Missionária) e também participando da Missão Jovem de nossa Arquidiocese, funções que continua exerceu até fevereiro de 2006.
No dia 03 de novembro de 2004 assumiu a Paróquia de São João Batista, em Itaborai, deixando Neves e Covanca. Em Itaborai trabalhou com afinco na reestruturação pastoral da Paróquia e na restauração da casa paroquial.
Nos meses de outubro e novembro de 2005 teve a felicidade de estar em Roma para um curso de Espiritualidade Sacerdotal Missionária.
Atendendo insistente solicitação da CNBB e das POM, no dia 12/12/2006 é transferido para Brasília, onde passa a exercer a função de Secretário Nacional da Infância e Adolescência Missionárias e onde também assume a função de SCE das de 2 Equipes de Nossa Senhora, como já o fazia em Niterói.

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Atenção! O padre Willian está bem! Apenas um pouco abalado com o acidente! Rezemos, por ele e pelos familiares do padre Edson!