Frase da semana

Não temas; doravante serás pescador de homens. (Lc 5, 10)

domingo, 26 de setembro de 2010

3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH - 3). Declaração da 48ª Assembleia Geral da CNBB

Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça” (Mt 6,33)

A promoção e a defesa  dos  Direitos  Humanos  fazem  parte  da  mensagem  bíblica  e constituem parte da missão da Igreja Católica, em sua ação evangelizadora, especialmente, diante de violações que atentam contra a dignidade humana. Na Encíclica Pacem in Terris, de 1963, o Beato João  XXIII  estabeleceu  um  autêntico  paradigma  dos  Direitos  Humanos,  alicerçados  numa  visão integral da pessoa humana.
A Igreja, por esta Encíclica, continua afirmando que Em uma convivência humana bem constituída e eficiente, é fundamental o princípio de que cada ser humano é pessoa; isto é, natureza dotada de inteligência e vontade livre. Por essa razão, possui em si mesmo direitos e deveres, que emanam direta e simultaneamente de sua própria natureza. Trata-se, por conseguinte, de direitos e deveres universais,  invioláveis e inalienáveis. (Pacem  in Terris, 9) Entre os direitos principais, listados pelo Papa, se encontram, em primeiro lugar, o direito à existência, à integridade física, aos recursos correspondentes a um digno padrão de vida (idem, 11).
O conjunto de Direitos afirmados na Pacem in Terris ultrapassa os que constam na Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas de 1948, sobretudo, pela ênfase dada aos direitos sociais e econômicos. Distingue-se também da visão individualista dos Direitos Humanos ao integrar os  direitos individuais aos sociais, a partir do princípio da responsabilidade social e do dever de solidariedade  que liga as pessoas humanas. Os direitos sociais, nesta perspectiva, não são uma concessão ou um ato de  caridade social, mas um dever de justiça que o Estado é obrigado a garantir, tendo em vista a dignidade da pessoa humana e o seu direito à vida.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), fiel à missão confiada por Cristo à Igreja, tem procurado agir na defesa dos Direitos Humanos, dentro de uma sociedade pluralista na qual vivemos. É  oportuno lembrar aqui a luta empreendida pelos Bispos do Brasil em favor da redemocratização  do País  e sua ação efetiva contra  o arbítrio  e a tortura.  Recordamos  também, algumas iniciativas da CNBB e das diversas Pastorais Sociais, do passado aos nossos dias, em prol da democracia, do direito e da justiça: as Campanhas da Fraternidade, a luta contra o trabalho escravo, a defesa  dos  povos  indígenas  e  afro-descendentes,  a  dignidade  dos  aprisionados,  o  empenho  pela reforma agrária, a justa distribuição da terra, a preservação do meio ambiente, o apoio na elaboração dos Estatutos da Criança e do Adolescente, do Idoso e da Igualdade Racial, a luta pela elaboração da Lei 9840, contra a corrupção eleitoral, e a recente Campanha conhecida como Ficha Limpa”.
Quando a Igreja se pronuncia sobre os Programas Nacionais de Direitos Humanos, ela o faz com  o propósito de exercer o seu direito de sujeito presente na sociedade e participante dos destinos  de  nosso   povo.  Tal  direito,  sendo  também  um  dever  constitutivo  de  sua  missão,  é irrenunciável. Diante dessas  iniciativas governamentais, a Igreja Católica somente quer servir à formação  da  consciência  na  política  e  contribuir  a  que  cresça  a  percepção  das  verdadeiras exigências da justiça (Deus caritas est, 28a).
Para a Igreja, a mesma veemência que se demonstra na defesa da vida em sua dimensão social  deve ser demonstrada no tocante à defesa da vida em sua dimensão pessoal, bem como na defesa de todos aqueles valores e realidades que dignificam o ser humano, como a família, a religião, a reta compreensão da sexualidade, entre outros. Não pode haver  desconexão entre a moral social e a moral da pessoa. A Igreja propõe, com vigor, esta ligação entre ética da vida e ética social, ciente de que não pode ter sólidas bases uma sociedade que afirma valores como a dignidade da pessoa, a justiça e a paz, mas contradiz-se  radicalmente aceitando e tolerando as mais diversas formas de desprezo e violação da vida humana, sobretudo se débil e marginalizada”. (Caritas in veritate,15)
Nas ões programáticas do Programa Nacional de Direitos Humanos   (PNDH-3), conforme  é afirmado na Nota da Presidência da CNBB, de 15 de janeiro de 2010, encontramos elementos  de  consenso  que  podem  e  devem  ser  implementados  imediatamente”.  Entretanto, identificamos também determinadas ações programáticas que não podem ser aceitas. Reafirmamos nossa posição, já muitas vezes manifestada, em defesa da vida e da família, da dignidade da mulher, do direito dos pais à educação religiosa e ética de seus filhos, do respeito aos símbolos religiosos, e contrária à prática e à descriminalização do aborto, ao casamento” entre pessoas do mesmo sexo, à adoção de crianças por casais homoafetivos e à profissionalização da prostituição.
A linha  de  continuidade  que  existe  em torno  desses  pontos,  entre  os  Programas  de Direitos Humanos de 1996 (PNDH-1), de 2002 (PNDH-2) e de 2009 (PNDH-3), é reveladora de uma antropologia  reducionista que está na base de certas formulações nas quais pretensos direitos são incluídos entre os Direitos Humanos, embora constituam a negação mesma de Direitos Fundamentais. Só uma visão integral de pessoa humana pode fundamentar corretamente os Direitos Humanos. Como afirmou o Papa Bento XVI,  perante a ONU, em seu discurso por ocasião do 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em abril de 2008, Tais direitos estão baseados na lei natural inscrita no coração do homem e presente nas diversas culturas e civilizações. (...) Contudo não se deve permitir que esta ampla variedade de pontos de vista obscureça o fato de que não os direitos são universais, mas também o é a pessoa humana, sujeito destes direitos.
Em nossa ação pastoral, continuaremos envolvendo as comunidades cristãs e mobilizando a  sociedade brasileira, para o necessário discernimento e o atento acompanhamento das propostas legislativas,   durante  a  sua  tramitação  no  Congresso  Nacional,  relativas  a  determinadas  ões programáticas do PNDH-3, em vista da efetivação dos Direitos Humanos em nosso País.
Renovamos nosso compromisso com o efetivo respeito aos Direitos Humanos, de modo especial  dos pobres e das camadas mais frágeis de nossa população.  Pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida, imploramos as luzes de Deus, para que, em um clima de diálogo democrático, possamos construir uma sociedade mais justa, fraterna e solidária.

Brasília, 12 de maio de 2010
 
 
Fonte: www.cnbb.org.br

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