Frase da semana

Não temas; doravante serás pescador de homens. (Lc 5, 10)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Solenidade do Sagrado Coração de Jesus: O homem na busca do amor

(...)Em que consiste essa solenidade? Será que devemos tomar somente o olhar devocional neste dia, ou seja, para aqueles que não tem uma devoção popular ao Sagrado Coração de Jesus não devem assim mergulhar nas riquezas e graças desse dia? Qual o real sentido que deve compreender o fiel católico diante do Sagrado Coração de Jesus? Antes de refletirmos de forma mais profunda, passemos a apresentar primeiramente uma noção histórica da devoção popular do Sagrado Coração de Jesus:

1.0- ORIGEM HISTÓRICA:

“O culto litúrgico ao Sagrado Coração de Cristo na sexta-feira seguinte ao Corpus Christi teve início no século XVII com são João Eudes († 1680) e santa Margarida Alacoque († 1690), embora a devoção remonte aos séculos XIII e XIV, recebendo a primeira aprovação pontifícia um século mais tarde. Em 1856, o papa Pio IX estendeu a festa a toda a Igreja, e em 1928 Pio XI lhe deu a máxima categoria litúrgica. A reforma pós-conciliar renovou profundamente seus textos com base no formulário da missa composto por ordem de Pio XI” (JULIÁN LOPES MARTÍN).

Dentre os principais expoentes desta devoção popular, podemos destacar os seguintes:

Santa Margarida Maria Alacoque, a confidente do Coração de Jesus - Nosso Senhor Jesus Cristo apareceu a Margarida Maria Alacoque, jovem religiosa da Ordem da Visitação, para transmitir sua mensagem de misericórdia e confiança, expressa no Coração humano e divino do Verbo Encarnado. O culto ao Sagrado Coração de Jesus obteve a partir de então grande impulso e alastrou-se por toda a Igreja.

São Cláudio de La Colombière, grande Apóstolo do Sagrado Coração - a grande importância de seu apostolado consistiu no apoio inestimável que prestou a Santa Margarida Maria: uma nova luz – a devoção ao Sagrado Coração – iria encher os espaços da Igreja sob o bafejo de Papas e Santos.

São Domingos Sávio - “Sua oração predileta – afirma Dom Bosco – era a coroa ao Sagrado Coração de Jesus para reparar as injúrias que recebe dos hereges, infiéis e maus cristãos”.

São João Eudes - Com São João Eudes (1601-1680), podemos dizer que a devoção ao Sagrado Coração como que atingiu a maioridade. Com efeito, graças à sua ação, esta devoção deixou de ser exclusivamente privada e se tornou pública e oficial. Com ele se instituiu o culto litúrgico ao Sagrado Coração.

Beato José de Anchieta – O primeiro devoto do Coração de Jesus no Brasil nascente. A primeira igreja no mundo consagrada ao Sagrado Coração, o foi por Anchieta, em 1585, no Espírito Santo. Anchieta era grande devoto do Coração de Jesus. Ele escreveu versos sobre o Coração de Jesus: "a lança que abriu-lhe o peito...". Ele estava já se antecipando nessa devoção. Ele a tinha, mas não a inculcava publicamente porque não estava ainda aprovada.

2.0- NA BUSCA DO SENTIDO DE VIDA

“Junto do Coração de Cristo o coração do homem aprende a conhecer o sentido verdadeiro e único de sua vida e de seu destino, a compreender o valor de uma vida autenticamente cristã, a se preservar de certas perversões do coração humano, a unir o amor filial para com Deus ao amor do próximo...é no Coração de Cristo que o homem recebe a capacidade de amar.” (J. Paulo II).

Para bem viver essa real e profunda experiência de Deus que é dada ao contemplar o Sagrado Coração de Jesus, é preciso olhar para o nosso coração, deparar com o vazio da nossa existência e superar o nosso nada, ao mergulhar no coração de Jesus: nele encontraremos a profundidade da misericórdia de Deus e o rela sentido de nossa vida. Assim, o homem quando busca o seu sentido de vida busca na verdade o Sagrado Coração de Cristo. È isso mesmo: Só no coração de Cristo é que o homem vai encontrar alento e descanso em meio ao vazio existencial que deparamos quando não nos voltamos para Deus.

Eis que um soldado com uma lança vem abrir o coração de Jesus: Daí faz jorrar água e sangue! Surgem os sacramentos e a Igreja. Abre-se de forma misteriosa a via de acesso ao amor de Deus: O CORAÇÃO ABERTO DE JESUS, O SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS.


3.0- QUANDO O HOMEM ENCONTRA O AMOR


Como então iniciou o culto litúrgico ao Sagrado coração de Cristo, nós acima o indicamos brevemente. Porém, apesar de existir um momento histórico que se iniciou a devoção popular do Sagrado Coração de Jesus, para o Papa Bento XVI o culto desta devoção confunde-se com a história do Cristianismo. Ou seja, ao compreendermos que o mistério do amor de Deus sobre nós é conhecido por meio da manifestação deste amor de forma mais profunda na Encarnação e também na Paixão e morte de Jesus na Cruz. “Tanto amou Deus ao mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que crer nele não pereça, mas que tenha vida eterna” (João 3, 16).

“Por outro lado, esse mistério do amor de Deus por nós não constitui só o conteúdo do culto e da devoção ao Coração de Jesus: é, ao mesmo tempo, o conteúdo de toda verdadeira espiritualidade e devoção cristã. Portanto, é importante sublinhar que o fundamento dessa devoção é tão antigo como o próprio cristianismo. De fato, só se pode ser cristão dirigindo o olhar à Cruz de nosso Redentor, “a quem transpassaram” (João 19, 37; cf. Zacarias 12, 10)”
(BENTO XVI).

Assim, a adoração ao Sagrado Coração de Jesus dá-se não só pelo mero cumprimento devocional, mas como um profundo mergulhar na vivência radical do evangelho. Inserindo-se no coração aberto de Jesus, inseri-se na vida de Cristo e na união de vontades, e tem como fruto uma relação viva entre Deus e o homem.

“A resposta ao mandamento do amor se faz possível só com a experiência de que este amor já nos foi dado antes por Deus (cf. encíclica «Deus caritas est», 14). O culto do amor que se faz visível no mistério da Cruz, representado em toda celebração eucarística, constitui, portanto, o fundamento para que possamos converter-nos em instrumentos nas mãos de Cristo: só assim podemos ser arautos críveis de seu amor. Esta abertura à vontade de Deus, contudo, deve renovar-se em todo momento: «O amor nunca se dá por “concluído” e completado» (cf. encíclica «Deus caritas est», 17). A contemplação do «lado transpassado pela lança», na qual resplandece a vontade infinita de salvação por parte de Deus, não pode ser considerada portanto como uma forma passageira de culto ou de devoção: a adoração do amor de Deus, que encontrou no símbolo do «coração transpassado» sua expressão histórico-devocional, continua sendo imprescindível para uma relação viva com Deus(cf. encíclica «Haurietis aquas», 62)” (BENTO XVI).

Por isso, é preciso experimentar o amor de Deus e não somente se limitar no conhecer, já que é por meio do ato de dirigir o olhar ao coração traspassado de Jesus que encontraremos a profundidade do amor de Deus.

“O significado mais profundo desse culto ao amor de Deus só se manifesta quando se considera mais atentamente sua contribuição não só ao conhecimento, mas também, e sobretudo, à experiência pessoal desse amor na entrega confiada a seu serviço (cf. encíclica «Haurietis aquas», 62). Obviamente, experiência e conhecimento não podem separar-se: um faz referência ao outro. Também é necessário sublinhar que um autêntico conhecimento do amor de Deus só é possível no contexto de uma atitude de oração humilde e de disponibilidade generosa. Partindo dessa atitude interior, o olhar posto no lado transpassado da lança se transforma em silenciosa adoração. O olhar no lado transpassado do Senhor, do qual saem «sangue e água» (cf. Gv 19, 34), nos ajuda a reconhecer a multidão de dons de graça que daí procedem (cf. encíclica «Haurietis aquas», 34-41) e nos abre a todas as demais formas de devoção cristã que estão compreendidas no culto ao Coração de Jesus” (BENTO XVI).

Deus em sua infinita misericórdia, com um gesto de doação e entrega total ao homem, permite que um dos soldados abrisse com uma lança o sagrado coração de Jesus, onde jorrou água e sangue. Eis o preço da nossa salvação: foi então para nós dado a plena riqueza que são os sacramentos e a vida na graça, que fez jorrar da fonte mais pura e plena de água viva “Que jorra a vida eterna” (Jo 4,14), ou seja, o coração aberto de Jesus.

Enfim, possamos na Solenidade do Coração de Jesus renovar a experiência do Amor de Deus que nos foi derramado ao instituir a Igreja e os Sacramentos por meio da água e sangue que faz jorrar deste coração aberto, deste amor que se deixa encontrar e que quer nos firmar cada vez mais na sua vontade. Mergulhemos no lado aberto de Jesus, como Tomé, que ao penetrar na intimidade de Deus, configurou-se com o seu coração, e a um só coração, cumpriu com fidelidade o mandamento do amor: IDE POR TODO O MUNDO E A TODOS PREGAI O EVANGELHO!

Por Márcio André - Assessoria Litúrgico Sacramental Shalom

In: http://www.comshalom.org/formacao/exibir.php?form_id=3735

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